Sobre a Loja Maçônica Francisco Glicério - 1522.
História da Loja Francisco Glicério
Nos idos anos 50, salvo duas ou três Oficinas que possuíam prédio próprio, todas as demais realizavam suas sessões no Palácio Macônico, no bairro da Liberdade, o que já não correspondia às necessidades de crescimento da grande metrópole paulistana, exigindo um movimento de descentralização.
Os maçons dos bairros mais distantes do centro padeciam das dificuldades do trânsito para chegar à sua Oficina e não raro chegavam tarde em casa após o término dos trabalhos. Tal situação aconselhava a transferência de Lojas para fora do centro ou a fundação de novas Oficinas nos bairros de maior densidade demográfica.
Com esse propósito, se uniram os Irmãos Nadir David Chohfi, José Thomaz, Hans Ludwig Aschermann, João Nery Guimarães, Otto Honneger, Darcy Franco Freire, Ulysses Jorge da Silva Pinto, Luiz Guimarães, Abério Sampaio Júnior e Danton Castilho Cabral, formando um grupo de 10 Mestres Maçons. Já na época, tradição e experiência de vida maçônica não faltavam à esses perseverantes Irmãos.
Nadir Chohfi fora fundador e Venerável da Loja “Estrela da Síria”; Hans Ludwig Aschermann ocupara o trono de Salomão na Loja “Roma” e exercera vários cargos no Grande Oriente de São Paulo.
João Nery Guimarães pertencera ao ilustre Conselho Estadual e desempenhara mandatos de deputado estadual e federal maçônicos pelas Lojas “Estrela do Oeste”, de Ribeirão Preto, e “Fraternidade Paulista”, de Barretos, tendo sido Orador da Poderosa Assembléia Estadual e fundador da Loja “Evolução III”, da Capital.
Ulysses Jorge da Silva Pinto organizara a biblioteca do Grande Oriente de São Paulo e fora fiel de sua Grande Tesouraria.
É importante ressaltar que não se tratava esse grupo de maçons dissidentes de suas Lojas de origem, mas de obreiros preocupados com a falta de Oficinas nos bairros.
Escolheu-se, assim, o bairro de Santo Amaro para abrigar uma nova Loja, em razão de possuir quase 400 anos de existência, ter sido colonizado por alemães, se diferenciar dos demais bairros por seus hábitos e cultura, além de já contar com uma Santa Casa própria, cemitério, teatro e de uma estrada de ferro que o ligava ao bairro da Liberdade.
Decidiu-se, então, que a sede provisória seria na Rua Joaquim Nabuco, onde funcionava a escola do Irmão Abério Sampaio Júnior.
A reunião de fundação, sob a Presidência do Irmão Hans Ludwig Aschermann, a 1ª Vigilância do Irmão Nadir David Chohfi e a 2ª Vigilância do Irmão João Nery Guimarães, além das outras luzes, foi realizada em 15 de agosto 1958.
Como a data 15 de agosto coincidia com o aniversário de nascimento de Francisco Glicério de Cerqueira Leite, que fora membro da Loja “Independência”, do Oriente de Campinas, e Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil, senador da República, líder do Congresso e da política nacional, e segundo paulista a empunhar o Primeiro Malhete da Ordem, após José Bonifácio de Andrada e Silva, decidiu-se, em sua homenagem, que a Loja recém fundada teria o seu honrado nome.
Decidiu-se, também, que a nova Oficina iria adotar o Rito Escocês, Antigo e Aceito, o qual já era adotado pela maioria das Lojas brasileiras.
Dessa forma, estava fundada a A.’.R.’.L.’.M.’. Francisco Glicério, no Oriente de Santo Amaro, sob o rito Escocês, Antigo e Aceito, com reuniões quinzenais, às quintas- feiras.
Somente a partir de março de 1967 é que a Loja deliberou realizar reuniões semanais, sendo que, desde 13 de agosto de 1968, as reuniões acontecem às terças-feiras. Essa foi a última mudança e vigora até hoje.
Na sessão seguinte à de fundação, por escrutínio secreto, fora eleita a primeira Administração, com mandato de um ano, que ficou assim composta: Venerável, Nadir Davi Chohfi; 1º Vigilante, João Nery Guimarães; 2º Vigilante, José Thomaz; Orador, Darcy Franco Freire; Secretário, Luiz Guimarães; Tesoureiro, Otto Honegger; Chanceler, Ulysses Jorge da Silva Pinto; Hospitaleiro, Hans Ludwig Aschermann; Mestre de Cerimônias, Abério Sampaio Júnior; Cobridor, Danton Castilho Cabral.
Seu título de regularização, entretanto, devido à obscuros entraves políticos e burocráticos, foi expedido pelo Grande Oriente do Brasil somente quase três anos depois de sua fundação, em junho de 1961, e solenemente festejado no dia 23 de janeiro de 1962, na Sede do Palácio Maçônico, no bairro da Liberdade, evento este que ficou marcado como uma das maiores festividades maçônicas daquele tempo. Era a coroação e o reconhecimento de tão sofrida e perseguida regularização da Loja “Francisco Glicério”.
De sua fundação até 1981, a Loja “Francisco Glicério” mudou de endereço por diversas vezes. Em 1960, transferiu-se da escola do Irmão Abério para o Largo 13 de Maio, coração de Sto. Amaro. Mudou-se ainda, afastando-se de Sto. Amaro, para a Rua Galvão Bueno; Rua 15 de Novembro; Rua José Bonifácio. Retornou à Sto. Amaro em julho de 1965, sediando-se na Rua Capitão Tiago Luz, Rua da Matriz, Rua Marcelino Zonta e Rua Alexandre de Gusmão.
Após perambular por esses vários endereços, em 1969, finalmente, sob a administração do Venerável Nadir David Chohfi, a Loja “Francisco Glicério” adquiriu um terreno na Rua Iguatinga, sobre o qual, somente em 1981, construiu o seu Templo próprio, onde se encontra até hoje, o qual foi utilizado pela primeira vez no dia 14 de julho de 1981, sob a direção do Venerável Costábele Lembo.
Por essas breves linhas, vê-se os percalços pelos quais passaram os obreiros fundadores dessa Augusta e Respeitável Loja e a peregrinação a que se submeteram até que conseguirem enraizar este Augusto Templo neste local em que estamos.