PEQUENA BIOGRAFIA DE FRANCISCO GLICÉRIO – Por João Nery Guimarães
O Patrono desta Loja, FRANCISCO GLICÉRIO DE CERQUEIRA LEITE, nasceu em Campinas, Estado de São Paulo, em 15 de agosto de 1849, e faleceu no Rio de Janeiro, em 12 de abril de 1916.
Foi iniciado Maçom na Loja “Independência”, do Oriente de Campinas, e pertenceu ao quadro da Loja Ordem II, do mesmo Oriente.
Exerceu o Grão Mestrado do Grande Oriente do Brasil de 1/2/1905, sendo o segundo paulista, depois de José Bonifácio de Andrada e Silva, a ocupar esse cargo. Pelo decreto n° 292, de 6 de abril de 1905, foi distinguido com o título de Grão Mestre Honorário “adivitam”, do Grande Oriente do Brasil.
Republicano e abolicionista, Francisco Glicério foi companheiro de Quintino Bocaiuva, Benjamin Constant e Ruy Barbosa na jornada de 15 de novembro de 1889. Campos Salles estava em São Paulo, donde só deveria chegar no dia 17. Curiosa e difícil de apreender a figura de Glicério. Rábula em Campinas, foi sempre o cabo dos cabos eleitorais, a maior força das urnas em seu Estado.
Campinas era a “Meca” da República. Ninho de Estadistas, ali moravam, ou lá se reuniam, os grandes personagens da futura república. Mas nem Prudente de Moraes, com a sua Austeridade, nem Bernadino de Campos, com a sua audácia dinâmica, nem Campos Salles, com a sua eloquência enfática, nem Jorge de Miranda, com o seu desapego às posições, que lhe dava, entre os companheiros de propaganda republicana a limpidez de um diamante que desenha um engaste, nenhum deles pode jamais competir em popularidade, ante o povo e em eficiência ante os companheiros, com o modesto leguleio do foro campineiro.
Ao tempo da propaganda Republicana, era Glicério a grande figura de São Paulo. Outros os excederiam sob vários aspectos, nem ninguém se lembraria de nega-lo. Mas, pelo conjunto de autoridade que só ele era capaz de consertar nas mãos, pelas rivalidades pessoais que delia, pela multiplicidade de amigos que aproximava, Glicério era a encarnação visível do partido Republicano Paulista. Vivendo para os outros, Glicério nunca soube viver para si. Escolhendo o fazer-se amar, qualidade negativa nas democracias, nunca soube fazer-se temer, talismã de vitória nos regimes populares. Paupérrimo sempre, da advocacia com que procurava ganhar o pão, o interdito proibitório contra qualquer aspiração. E o mais esforçado, o mais prestigioso, o mais eficaz dos propagandistas de São Paulo, teve de morrer com esta mágoa: nunca se lembraram dele para exercer o governo em sua terra.
Em 1888, quando agravava-se o Estado de saúde de Dom Pedro II, que estava na Europa, Francisco Glicério leu num comício em Campinas um manifesto do Diretório de São Paulo, propondo que, no caso da morte do Imperador, o povo fosse convocado para dizer se queria o 3° reinado, com a Princesa Isabel, ou um novo regime, repetindo o que já fizera a câmara Municipal de São Borja.
Um dos convencionais de Itu, chegara à conclusão de que a Monarquia só cairia pela união de forças dos republicanos e dos militares, atitude essa que Quintino Bocaiuva discordava, por achar ser isso precipitação.
Em 1° de fevereiro de 1890, Francisco Glicério foi convidado pelo governo provisório do Marechal Deodoro da Fonseca para ocupar a pasta da agricultura. Gozando da estima pessoal de Floriano Peixoto, autodidata inteligente, sagaz, maneiroso, paciente, que soubera abrir brilhantemente o próprio caminho, num meio de plutocratas rurais, como era São Paulo, Francisco Glicério tinha as virtudes precisas para dirigir, entre mil escolhos diários, a espécie de caravançará partidário que construíra.
Glicério era o “general das Brigadas” (a representação parlamentar dos vinte Estados e do Distrito Federal), justificando, assim, pela primeira vez, os bordados de general honorário, que o Governo Provisório lhe concedera, como aos seus outros ministros.
Como Ministro da Agricultura, Glicério opôs-se à concessão de garantias de juros para a construção do Porto das Torres, solicitada por um amigo íntimo de Deodoro. Como o Marechal insistia, o Ministro pediu demissão, que não foi aceita.
O prestígio eleitoral de Glicério era tão forte, que em agosto de 1888, em pleno regime monárquico, o seu nome foi apresentado pelo Partido Republicano a uma vaga no senado, logrando a maior votação, ou seja, o dobro do seu opositor, não sendo, porém, sido escolhido pelo seu Imperador.
Quando em 1897 explodiu a revolta da Escola Militar do Rio de Janeiro, cujos cadetes navegavam-se a entregar as armas e munições ali guardadas, que seriam enviadas ao Rio Grande do Sul, onde se anunciavam novos movimentos dos Federalistas, J.J. Seabra propôs na Câmara dos Deputados a formação de uma Comissão para se congratular com Prudente de Moraes. Glicério foi contra a proposta, que foi derrotada por 86 x 60 votos. Glicério, líder do Governo, dissera que se opunha à moção porque a Escola Militar era o reduto das glórias republicanas. Prudente rompeu com Glicério. Artur Rios renunciou à presidência da Câmara dos Deputados. Glicério reuniu seus companheiros para a escolha do próximo candidato à Presidência da República, tendo sido escolhido o Maçom Lauro Sodré, que disputou com Quintino Bocaiuva e Julio de Castilhos.
Chefiando os cadetes da Escola Militar, Lauro Sodré foi detido quando marchava contra o Palácio do Governo, e levado preso, incomunicável, ao navio Deodoro. O Grande Oriente do Brasil solidarizou-se com Lauro Sodré, então seu Grão Mestre.
O Grão Mestre Adjunto, Senador Sá Peixoto, governista, afastou-se do cargo, ficando o Grande Oriente acéfalo. Assumiu então o Primeiro Malhete da Ordem o Senador Francisco Glicério, que empenhou-se na defesa de Lauro Sodré, no que foi bem sucedido.
Glicério era homem de grandes horizontes e preocupado com o ensino – ele nunca pisará numa escola -, deu valioso apoio à miss Browe, que propunha a formação de uma Escola Modelo, ponto de partida para a reforma do ensino, até então em moldes arcaicos. Essa escola foi realizada e se transformou na Escola Normal da Praça da República, berço de tantos professores ilustres que tornaram o ensino paulista um dos melhores do País.
A figura de Francisco Glicério no cenário nacional era a do popular que sustentou a nova República. A sua voz autoritária evitou que Floriano Peixoto, que assumira a Presidência da República em substituição a Marechal Deodoro, num momento de greve e crise, estendesse a São Paulo as medidas coercitivas utilizadas severamente em outros Estados.
Como Maçom, Francisco Glicério ocupou vários cargos na Instituição, a qual se orgulhava de pertencer. Na nossa Loja, temos um fac-símile de um recibo assinado por Francisco Glicério como Tesoureiro da Loja Independência, para alforria de uma pretinha escrava, como era comum fazerem as Lojas Maçônicas, assim aplicando o seu Tronco de Beneficência.
Francisco Glicério foi sogro de Herculano de Freitas, ministro da Justiça no período republicano, e muito ligado a Santo Amaro, onde Glicério passou diversas vezes em suas incansáveis andanças.
Escolhendo o nome de Francisco Glicério para seu patrono, como já o fizera outra Loja Maçônica que existiu em Santo Amaro na década de 20 – a Loja “General Glicério” -, esta Loja procurou homenagear a memória de um dos mais ilustres patriotas republicanos e Maçom de elevada estatura.